quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A produção da maquete eletrônica

Apesar da tecnologia da computação gráfica ter se popularizado no meio arquitetônico (sobretudo nos últimos anos), poucas pessoas tem alguma noção dos processos inerentes à criação da maquete em si. Os efeitos dessa desinformação geralmente causam problemas relacionados ao prazo de execução (normalmente subestimado) e dificuldades técnicas que podem surgir em função da necessidade de permanecer fiel aos acabamentos requeridos pelo cliente e que, muitas vezes, levam a capacidade de cálculo da máquina ao limite;  ocasionalmente por muito tempo.

A construção de um modelo é mais lenta do que parece. Ela começa a partir de arquivos de referência cedidos pelo cliente, sendo normalmente arquivos .dwg, extensão conhecida do AutoCAD. No AutoCAD, o projeto é limpo, e tudo que não é essencialmente parte do projeto, do prédio em si, é excluído. O tempo gasto nessa etapa varia de acordo com a quantidade e a qualidade dos arquivos de referência cedidos pelo cliente e, evidentemente, do tamanho da construção, da complexidade do projeto, da obra.

Após a preparação dos arquivos de referência, outro programa é utilizado para importar o projeto de forma que mantenha as medidas e proporções fiéis àquelas do projeto: 3D Studio Max. É partir daí que o modelo começa, de fato, a ser construído. Através de plantas, cortes, elevações, detalhes, fotos, referências de acabamentos e etc., a maquete começa a tomar forma, transmitindo pela primeira vez a idéia do projetista de maneira tridimensional. Finalizado o prédio em si, inicia-se a modelagem do mobiliário e peculiaridades de projeto são adicionadas à gosto do cliente, por vezes descritas em projeto ou não (o que também ajuda a aumentar o tempo de execução), até que o modelo contenha todos os elementos fundamentais requeridos, garantindo que a identidade do projeto seja mantida fiel àquela do projetista. A modelagem consiste na parte mais complexa e demorada na produção de uma maquete eletrônica. A complexidade do projeto é fator determinante para o prazo de execução, podendo esse ser de apenas algumas horas, ou até mesmo de dias (senão semanas).

O passo seguinte diz respeito à texturização, onde os materiais selecionados pelo projetista são simulados da forma mais fiel possível. Fotos dos acabamentos em questão são essenciais para esta etapa. Elas vão servir como referências para a edição de mapas (imagens utilizadas como texturas) ou até mesmo para a criação de  materiais procedurais (combinações de materiais à priori sem qualquer especialidade que juntos produzem a ilusão, a representação de algum outro material conhecido, aperfeiçoados através de experimentação). A texturização é a etapa mais rápida do processo e geralmente é cumprida com certa facilidade. Desde que todos os insumos necessários para a correta representação dos materiais seja enviada por parte do contratante.

A próxima etapa, a iluminação, pode ser simples, esquemática ou até mesmo fiel fotometricamente. Por vezes, os clientes enviam arquivos de projeto exclusivamente de iluminação, onde os modelos de luminárias são especificados, sua posição na construção e quais tipos de lâmpadas estão sendo utilizadas.  Graças à esse material, é possível representar a iluminação de um ambiente muito próxima a iluminação real. Mas nem sempre é assim. As vezes é da preferência do cliente utilizar algo mais natural, como pura e simplesmente, a luz do sol. De fato, a primeira alternativa leva muito mais tempo que a segunda, e claro, também gera custos maiores. Tudo depende do orçamento disponível. Mas, geralmente a iluminação consome mais tempo que a texturização e menos tempo que a modelagem. Isso porque ela caminha junto com outro processo muito importante: a renderização.

A renderização consiste em um processo de cálculo realizado pela máquina (muitas vezes na plenitude de suas possibilidades), onde através da capacidade computacional do CPU (do processador) e da memória RAM do computador, as texturas, materiais e objetos serão ''banhados'' com a luz definida no modelo e a partir de então, vão reproduzir o comportamento da luz e as propriedades dos materiais reais. É nesse processo que a imagem propriamente dita é construída. Não é incomum perder mais de 4 ou 5 horas no processo de renderização de uma única imagem. E essa é apenas uma das etapas! A construção de cada imagem as vezes custa a renderização de outras 2, sendo elas de naturezas diferentes: as chamadas passagens. Cada passagem pode consumir o mesmo tempo da renderização inicial. Porém, a complexidade da cena e dos materiais fazem variar o tempo de renderização, e nem sempre esse processo é tão longo. De qualquer forma, finalizada as passagens, nos direcionamos a última etapa: o tratamento.

Quando tudo que foi feito até aqui se transforma em uma imagem, é hora de utilizar um software de desenho e tratamento de imagens. Photoshop. E lá que todos as passagens serão colocadas juntas, onde todas as ferramentas de finalização vão dar ao produto sua cara final, àquela garantida pelo estilo do artista, e claro, a qualidade do seu trabalho. A complexidade da edição varia, evidentemente, de acordo com a complexidade da própria imagem, mas em termos gerais, leva algumas horas. Terminado todo esse processo, a imagem está finalizada.

Como qualquer produto que depende do processo criativo, e de qualificação para lidar com as ferramentas necessárias (as quais requerem alto nível de especialização), o custo da hora de trabalho não é dos mais baratos. Embora sempre haja uma variação em função do escopo, da necessidade do cliente e da dificuldade de produção, o valor de uma perspectiva de qualidade, gerada através de maquete eletrônica, jamais  (e posso dizer com segurança) fica abaixo de algumas centenas de reais. Quando deparam-se com esse valor, muitos potenciais clientes abortam suas intenções de apresentar perspectivas em 3D, que poderiam elevar a qualidade da apresentação de seu próprio produto, e que em muitas vezes, determina a venda, o sucesso ou insucesso do produto! Razão pela qual a maquete eletrônica é tão requisitada atualmente.

Resumidamente, o processo é trabalhoso, requer conhecimento em várias áreas (por exemplo, arquitetura, decoração, comunicação visual, marketing...), especialização, criatividade, e claro, competência

Marco Pedroso.

Nenhum comentário: